Pulmões, boca, garganta, esófago, língua e lábios são apenas alguns dos órgãos que se podem ver afetados pela ingestão regular de nicotina. Um dos mais prejudicados, apesar de injustamente esquecido, é a pele. Pela sua vulnerabilidade e pelo simples facto de estar constantemente exposta ao fumo, danifica-se, às vezes, de forma irreversível. Os efeitos começam a ser muito mais visíveis passada a barreira dos 30 anos, altura em que a produção natural de colagénio e elastina tende a começar a diminuir.
Mas, afinal, por que é que o tabaco envelhece a pele? Saiba neste artigo quais os efeitos do tabaco na epiderme e a melhor maneira de os prevenir ou travar. O tabaco provoca o aumento da atividade da elastase e da colagenase, enzimas que destroem a elastina e o colagénio, substâncias que dão à pele a sua elasticidade e flexibilidade. Na sequência desse aumento de atividade, as fibras elásticas que suportam a pele, a elastina e o colagénio, quebram-se, perdendo precocemente a sua função de sustentação.
O contacto direto da pele com o fumo faz com que os fumadores estejam expostas a um stresse oxidativo maior, pois o fumo contém em si mesmo radicais livres, moléculas instáveis que provocam alterações celulares. Essa ação leva, consequentemente, o organismo a produzir ainda mais. As defesas da pele debilitam-se e tornam-se mais vulneráveis. Em resultado disso, surgem mais rugas faciais, a pele do corpo fica sem tónus e o cabelo tende a apresentar-se mais seco e também mais baço.
3 problemas comuns causados pelo fumo
Existem consequências claríssimas a nível cutâneo que se produzem pelo consumo de tabaco. Se, para além disso, somarmos o facto do processo natural de envelhecimento ser mais rápido e prejudicial em pessoas fumadoras, os efeitos são devastadores. Estas são três consequências muito comuns do tabagismo:
– A pele perde defesas
De acordo com Melissa Leite, profissional formada em estética, “um dos efeitos mais comuns do tabaco é a pobre circulação sanguínea e a perda de oxigénio, ambos necessários à manutenção de uma pele saudável”. A pele oxida mais cedo e perde a capacidade de reacção contra as agressões externas. Os raios solares, principal causa de envelhecimento e deterioração cutânea, tornam-se mais prejudiciais. A pele, muito vulnerável e com menos defesas, danifica-se mais.
Por outro lado, a destruição das fibras elásticas na pele das fumadoras começa na derme média ou profunda porque os radicais livres chegam por via sanguínea, enquanto a perda de elastina por dano solar se inicia nas camadas mais superficiais da derme. Em conclusão, a soma dos efeitos do tabaco e do sol na pele é igual a um acelerador do envelhecimento cutâneo. O sol danifica as camadas mais superficiais, enquanto o tabaco o faz, sobretudo, nas camadas mais profundas.
– A boca (também) sofre
Não é só na pele que os efeitos do tabaco se sentem. “Mau hálito e cancro da boca são apenas dois efeitos possíveis. A boca de uma fumadora é, geralmente, descolorada, tem dentes manchados com tártaro e os dentes tendem a tornar-se soltos, com gengivas secas e sem brilho, devido à fraca oxigenação e circulação sanguínea”, alerta ainda a especialista Melissa Leite.
Para além disso, a zona da epiderme que existe por cima do lábio superior tende a adquirir, com o passar do tempo, rugas mais profundas, popularmente apelidadas de código de barras, agravadas pelo gesto reiterado de aspirar o fumo do cigarro que muitos fumadores têm. E, quanto mais profundo for o sulco, mais difícil é de tratar.
– A epiderme fica amarelada
A nicotina tinge a pele de amarelo. Embora os dedos e os dentes adquiram uma tonalidade amarelada mais marcada, sobretudo em grandes fumadores, na verdade toda a pele do corpo se vai tingindo por causa da nicotina.
5 soluções com eficácia comprovada
Os fumadores devem consultar regularmente o dermatologista, para prevenir e corrigir atempadamente os danos cutâneos induzidos pelo tabaco. E, quanto mais cedo isso for feito, melhor. O truque está em prevenir danos futuros. É preciso ter a noção de que, com o tempo, a pele vai ser ainda mais danificada e fazer o possível para travar essa deterioração. A proteção e a prevenção são, por isso, essenciais. Estas são algumas das formas de as garantir:
– Proteção solar todo o ano
Este é um ponto fulcral. Até no inverno é recomendável usar diariamente um protetor solar com FPS 15 ou FPS 30, no mínimo. Os protetores com cor são uma boa opção. A cobertura física da cor fornece uma proteção adicional. As áreas da pele que ficam a descoberto e estão em contato directo com o tabaco e a luz do sol devem ser protegidas com cuidado acrescido. É o caso das mãos e dos lábios.
Não se esqueça de aplicar protetor nas costas das mãos e escolha hidratantes labiais com fator de proteção solar. Melissa Leite, à semelhança da maioria dos dermatologistas, nacionais e internacionais, aconselha também evitar o sol entre as 10h00 e as 16h00 e usar vestuário adequado, com mangas compridas, calças e chapéu de abas largas, durante a exposição solar para garantir uma proteção eficaz.
– Tomar antioxidantes por via oral
Seguir uma alimentação rica em antioxidantes ajuda a contrariar os efeitos do tabaco no que à oxidação diz respeito. É necessário, sobretudo, aumentar a ingestão de vitaminas A, C e E e o consumo de licopeno, um antioxidante presente no tomate, por exemplo. Como através de uma dieta normal pode ser difícil conseguir as quantidades necessárias destes antioxidantes para que sejam eficazes, pode recorrer aos suplementos orais, sempre sob supervisão médica.
– Aplicar antioxidantes por via tópica
Não basta tomar antioxidantes por dentro, também é preciso administrá-los por fora para reforçar essa ação. Os antioxidantes têm um efeito fotoprotetor, o que aumenta a sua capacidade antienvelhecimento. Existem cremes muito ricos em substâncias antioxidantes que ajudam a pele a recuperar dos estragos do tabaco. Os especialistas recomendam o uso de produtos à base de vitaminas A, C e E.
Fórmulas com carotenos, licopeno, coenzima Q10, ácido lipóico, polifenóis e flavonoides também são aconselhadas. Em consultório, podem-se aplicar fórmulas específicas mais concentradas, como o ácido retinoico, derivado da vitamina A. Outra opção é injetar diretamente na pele algumas destas substâncias antioxidantes. Ajuda a reorganizar as fibras elásticas danificadas pela exposição solar e melhora a irrigação da pele.
– Ativar a microcirculação
O tabaco é vasoconstritor, o que se traduz numa circulação deficiente que afeta tanto as camadas superficiais (a epiderme) como as mais profundas (a derme) da pele, piorando a irrigação sanguínea. A consequência é um tom de pele baço, acinzentado e, por causa da nicotina, até um pouco amarelado. A solução passa por ativar a circulação através da aplicação de produtos específicos e/ou pequenas massagens manuais.
4 tratamentos raparadores que devolvem brilho e firmeza
As peles dos fumadores precisam de tratamentos específicos para contrariar os efeitos do fumo e da nicotina não só na pele mas também no cabelo, que perde brilho, tende a secar e torna-se quebradiço. Para além das soluções dermocosméticas que atualmente existem no mercado, existem também rituais com protocolos que revitalizam as áreas mais afetadas:
– Tratamentos de rosto antioxidantes
Estes tratamentos de rosto, que variam consoante as clínicas, visam eliminar as toxinas e os metais pesados da pele, bem como mobilizar a microcirculação. Depois da limpeza da epiderme, aplica-se um gel com vitamina C, que é ativado de forma magnética com uma espécie de íman, um magnetofone. Depois, aplica-se uma máscara de lama
inorgânica.
Essa máscara deve atuar durante cerca de 10 minutos, sendo depois retirada com outro íman. Após o tratamento, a pele recupera frescura, suavidade e tonicidade, notando-se rejuvenescida. Um tratamento deste tipo pode custar entre 60 € e 95 € por sessão e, no caso das fumadoras, deve ser, numa primeira fase, idealmente feito uma vez por semana.
– Tratamentos faciais com ácido hialurónico
São tratamentos que associam ácido hialurónico de alta viscosidade a um complexo multivitamínico ajustado às necessidades de cada pele. Tem uma ação hidratante, revigorante e antioxidante. Combate as alterações cutâneas provocadas pelos hábitos tabágicos. A aplicação é, muitas vezes, feita com uma pistola de mesoterapia munida de uma agulha muito fina, sendo praticamente indolor. Demora cerca de 30 minutos. Pode custar até 300 € por sessão. Devem ser feitas quatro sessões, de 15 em 15 dias.
– Tratamentos de corpo com oxigénio
Estes são tratamentos que combinam oxigénio hiperbárico com séruns específicos. Exercem uma ação revascularizante e anti-radicais livres, deixando a pele luminosa, tonificada, pura, sã e rejuvenescida. Primeiro, faz-se uma esfoliação química ou mecânica. De seguida, é criado um coquetel de ativos antioxidantes 100% personalizado que é infundido na pele.
Depois, aplica-se um elixir específico trabalhado com oxigénio hiperbárico puro, e uma máscara durante cerca de 15 minutos. O tratamento é finalizado com uma massagem com um creme específico. O seu preço destes rituais revitalizantes custa, em média, cerca de 50 € por sessão ou desde 300 € para pacotes que integram seis sessões. A frequência recomendada é de uma a duas vezes por semana.
– Tratamentos capilares antioxidantes
O cabeleireiro mistura os produtos que compõem o tratamento, que podem incluir o recurso a pérolas revitalizantes e a aplicação de uma máscara nutritiva. Espalha-os, depois, no couro cabeludo e no cabelo. Tem um tempo de pose que não costuma ultrapassar os 10 minutos. Nesse período, faz uma massagem relaxante no pescoço, no ombros e na zona superior das costas. Depois, emulsiona e remove o produto. Estes tratamentos custam cerca de 50 €. Devem ser feitos uma vez por mês.