Tudo o que pode fazer contra a celulite

São poucas as mulheres que não se queixam da pele com marcas que se assemelham às da casca de uma laranja que, com o tempo, surgem nalgumas zonas do corpo. As recomendações de uma nutricionista e as soluções propostas por um cirurgião plástico.

São raras as que se podem orgulhar de não a ter. Por isso, se é mulher, mesmo que seja tendencialmente magra, independentemente da sua idade, as probabilidades de ser afetada pela celulite são de 90%, sobretudo se for caucasiana. Atualmente, no mercado nacional, tem ao seu alcance, para além de produtos anticelulíticos e de formas preventivas que passam pelo desporto e pela alimentação, novas armas para a travar e combater, assentes em técnicas cada vez mais eficazes e inovadoras, a que pode recorrer.

Embora, tal como explica António Cardoso Tavares, cirurgião plástico, “a partir dos 40 anos, as mulheres raramente sejam afetadas pela celulite e sejam, isso sim, afetadas pela falsa celulite, uma deformação resultante da flacidez da pele, com depressões que simulam a pele tipo casca da laranja”, esclarece ainda o médico. “Em idades mais precoces, o aparecimento desta inestética distribuição de gordura é influenciado por vários fatores, alguns deles evitáveis, outros nem por isso”, adverte o especialista.

De acordo com o médico, “a celulite pode demorar anos a formar-se mas, uma vez que aparece, se não for tratada, tem tendência para agravar e tornar-se irreversível”. “Por outro lado, existem inúmeros casos em que, mesmo que se faça tudo para a evitar, não se consegue”, adverte. Para sair deste círculo, há que evitar as causas que provocam celulite, exceto as que não se podem mudar, como a genética, como é óbvio, atacando as suas principais caraterísticas. Mas, para isso, tem de identificar o seu tipo de celulite.

Conhecê-la ajuda a evitá-la

Em medicina, é conhecida como lipodistrofia ginóide, vocábulo que corresponde à síndrome de pele tipo casca de laranja ou pele acolchoada, como também lhe chamam. Ao contrário do que a maioria das pessoas julga, “a celulite não corresponde, na realidade, a acumulações de gordura [acumulações localizadas ou lipodistrofias localizadas] mas, sim, a alterações do metabolismo e da arquitetura das células de gordura. Por isso, também aparece em mulheres magras”, esclarece ainda o cirurgião.

Na celulite, não há aumento do tecido adiposo mas, sim, a deformação da arquitetura do mesmo em determinadas zonas do corpo, o que dá depois origem a nódulos de gordura, água e toxinas. Provoca uma alteração na forma corporal feminina e costuma aparecer na parte externa das coxas e na interna dos joelhos, nos glúteos e no abdómen. Note-se que muitas mulheres podem associar, é muito comum, os dois tipos de deformação, a celulite e as lipodistrofias localizadas, na mesma ou em diferentes regiões anatómicas.

Nas mulheres, a celulite tende a aparecer a partir da puberdade de forma natural e faz parte das suas caraterísticas sexuais secundárias. É o resultado de uma alteração da microcirculação na camada gorda, a hipoderme. Mas há mais fatores que a influenciam, nomeadamente hormonais, como é o caso das hormonas femininas e das tiroideias. Também há fatores circulatórios, como as alterações na microcirculação e a retenção de líquidos, assim como neurovegetativos. É o caso do stresse e da instabilidade emocional.

Muitos investigadores, um pouco por todo o mundo, identificaram ainda, ao longo dos anos, fatores genéticos e/ou étnicos distintivos. As mulheres brancas apresentam, por exemplo, em média, mais celulite do que as de raça negra. As latinas costumam tê-la nas pernas e nos glúteos e as nórdicas no abdómen. Os (maus) hábitos alimentares e o estilo de vida também interferem com a celulite. As pessoas que não fazem exercício e/ou fumam têm maiores possibilidades de vir a exibir marcas de celulite na epiderme.
Como se pode prevenir

As notícias não são das mais animadoras. De acordo com António Cardoso Tavares, “neste momento do conhecimento, não podemos dizer que a celulite se pode prevenir”, avisa. Aquilo que pode fazer, segundo o especialista, é “concentrar-se nos hábitos alimentares e no estilo de vida para tentar evitar a sua progressão”, recomenda. Ao nível da alimentação, evite o excesso de peso e reduza a ingestão de sal, que contribui para a retenção de líquidos. Beba água abundantemente e inclua fibras na sua alimentação.

Estas substâncias combatem a prisão de ventre, condição que agrava globalmente a celulite. Reduza também a ingestão de açúcares refinados e de gorduras saturadas e dê prioridade aos hidratos de carbono de absorção lenta (farinhas integrais, frutas e verduras) e às gorduras mono-insaturadas e poli-insaturadas (ómega-3, ómega-6 e ómega-9). Para potenciar os efeitos dessas ações, não abuse do café nem do álcool. Evite também o tabaco e fuja do sedentarismo, duas palavras a riscar da sua lista.

Aposte no exercício físico, que estimula o retorno venoso nas pernas e diminui a camada de tecido subcutâneo, diminuindo alguns dos fatores que estão mais associados à celulite. Reduza o stresse e a ansiedade ou, pelo menos, aprenda a geri-los positivamente, recorrendo a atividades como a meditação ou o ioga. Use produtos com ação anticelulítica para prevenir o avanço do problema. E, se fizer tratamentos anticelulíticos, coloque-se sempre nas mãos de profissionais credenciados e competentes.
As diferentes classes da celulite

Tal como explica António Cardoso Tavares, cirurgião plástico, existem três tipos de celulite, a de grau 1, 2 e 3. Saiba, de seguida, o que as distingue:
– Celulite de grau 1

A celulite lipodistrófica ou adiposa está na origem da deformação em casca de laranja que se observa quando se pinça a pele. Verifica-se um aumento de consistência à palpação, mas o restante é normal. Aparece na mulher jovem.
– Celulite de grau 2

A celulite hidrolipodistrófica ou edematosa está na origem da deformação em casca de laranja que se observa quando a mulher está de pé e ao pinçar a pele. A palpação tem uma consistência mais elástica e aparece, habitualmente, perto dos 30 anos.
– Celulite de grau 3

A celulite fibrolipodistrófica ou fibrosa está na origem da deformação em casca de laranja que se observa quando a mulher está deitada e também quando está de pé. A palpação revela nódulos de consistência dura que podem ser dolorosos. É a mais grave e é irreversível.